quarta-feira, 3 de junho de 2009

Escolhas aleatórias

Passei o último fim de semana em BH, visitando uma amiga querida que não via há muito tempo. E como é natural nessas ocasiões, conversamos quase o tempo todo.

Ela me contou que está namorando um alemão há 3 anos, e eu quis saber mais sobre isso. Daí ela me contou que no fim de 2005 sentiu uma vontade louca de ir para uma cidade do interior, para a qual jamais tinha ido. E chegando lá foi conhecer esse rapaz, que por sua vez também nunca tinha ido lá. Se conheceram, se gostaram, e estão juntos até hoje.

Bom, esse é o tipo de história que faz você pensar. Pomba, em 30 anos de vida você vai apenas uma vez a um determinado lugar, e acaba conhecendo uma pessoa importante para sua vida, que "por acaso" também estava passando por lá uma única vez em sua existência. Avalie por alto a probabilidade dum troço desses, e você se depara com duas hipóteses: ou a coisa 'era pra ser' e não tinha jeito, ou tudo nessa vida maluca é apenas caos, e você não achará nada demais em alguém se apaixonar por uma pessoa um pouco menos provável que tenha cruzado seu caminho.

Só sei que mergulhamos nessa conversa, e de alguma forma a coisa mexeu comigo. Fiquei pensando sobre essa loucura que são as escolhas aleatórias que fazemos na vida, e que podem ser mais decisivas para seu futuro do que a faculdade que você faz.

Sei lá, um cara tem 3 opções de caminho para chegar em casa. Numa delas, a mulher de sua vida o aguarda, sem que ele possa imaginar. Noutra um psicopata está decidido a matar o primeiro infeliz que aparecer, e na última opção, simplesmente não vai acontecer nada de especial. E aí?

Bom, os dias se passaram, e o papo sobre essas escolhas esfriou. Ao menos até que chegou a hora de comprar minha passagem de volta, e eu me deparei com aquela imagem da planta do ônibus, mostrando quais os lugares que ainda estavam vagos.

Notei que todas as janelas já haviam sido vendidas, e que apenas duas poltronas de corredor não permanceciam vagas. Senti um frio no estômago, e um pressentimento. Em alguma daquelas janelas estaria uma mulher legal de se conhecer. Mas em qual?

Olhei bem para aquela imagem, e imaginei todo tipo de gente que estaria ocupando aquelas cadeiras. Ia encarar 7 horas de viagem, e ao escolher um número poderia estar optando entre deitar ao lado de uma mulher que poderia vir a ser importante em minha vida, ou um jogador de Rugby. Pergunto: é justo fazer uma escolha tão importante sem ter qualquer informação a respeito??? Deve ter alguém rindo muito da gente lá em cima...

Enfim, senti algo em relação ao número 8, e fui nele. No entanto, por algum motivo o site da empresa não efetuou a venda, havia algo de errado. Pelo tel também não deu, então não tive escolha senão ir à rodoviária, comprar do jeito antigo.

Entre uma coisa e outra cerca de uma hora se passou, e quando finalmente cheguei ao guichê, me deparei com a mesma escolha. Olhei para a tela, e lá estava a minha poltrona 8, ainda me esperando. "É um sinal" - pensei. Se não vendeu até agora, era mesmo para ser minha. E comprei.

Bom, ainda passei mais algumas horas super agradáveis na capital mineira, mas nada disso importa para nossa narrativa. Então, lá pelas 23h saí de onde estava e fui para a rodoviária de BH. Lá chegando, de cara vi algo que considerei um bom presságio.

Não sou entusiasta do lesbianismo, pois se as mulheres descobrirem que são muito mais gostosas que os homens, estou ferrado. Gosto, portanto, de mulheres que gostam de homens - ou pensando melhor, mulheres que gostam de mim. Se pudesse escolher, todas iam gostar de mim e ponto. Ou também de meus amigos, porque melhor que curtir um mulherão, é curtir um mulherão vendo todos seus amigos igualmente bem acompanhados.

Mas enfim, cheguei na rodoviária e vi aquela cena inegavelmente bela de duas mulheres se beijando sem qualquer pudor. Duas gatinhas, a bem da verdade, nada de Cássia Eller não. Gatinhas e apaixonadas, tavam gostando mesmo da coisa. Bom sinal - pensei.

Já perto de meia-noite meu ônibus chegou, e eu fiquei de olho na fila para ver se sentia a mesma intuição diante de algum rosto. Tarefa difícil, pois BH é uma dessas cidades abençoadas em termos de mulheres bonitas, e sobretudo simpáticas.

Chegou então a hora de subir no ônibus, e eu estava animado para ver qual delas iria passar a noite ali, ao meu lado. Foi quando eu finalmente entendi por que o site tinha ficado fora do ar. Era meu anjo da guarda tentando me dizer para não comprar a 8 de jeito nenhum!

Meu irmão, tente imaginar um cruzamento de Mr. Catra com Hancock. Imaginou? Pois é, não tinha gatinha nenhuma ao meu lado, e sim um camarada esparramado, óculos escuros e touca no cabelo, casaco de couro preto daqueles bem sinistros e surrados, braços cruzados, fingindo que estava dormindo para não ter que me dar boa noite. O tipo de pessoa que sem precisar de muito esforço você imagina matando gente. E o que era pior: a divisória central tava levantada.


Potaqueopareo! - pensei. Eu mereço, fala sério. Todo castigo pra corno é pouco.

Então foi isso. Sentei acoado no que restava de minha poltrona, dando conta de que ele havia se deitado também sobre o meu cinto de segurança. Tudo bem, porque a essa altura eu não queria mesmo ficar preso ali. E também vi que seria impossível dormir naquelas circunstâncias, mas tava valendo. Tudo que eu queria era chegar logo ao Rio.

E então a mulherada começou a subir no ônibus. Eu ali, ao lado daquele exterminador, pude ver de camarote as mineirinhas lindas entrando no coletivo, e eu lá, do lado daquele leão de chácara do inferno. À minha frente, na poltrona 1, uma menina deliciosa, com um gordo mané ao lado. Por que não comprei a 2!?

Ao meu lado, uma das lésbicas se despedia pela janela da amante. E duas fileiras atrás de mim duas amigas, brincando, perguntavam alto se já tinham arrumado namorado dentro de um ônibus. Porra, se eu tinha que conhecer a mulher da minha vida naquele ônibus, é bom eu me conformar com uma vida de boemia.

Fiquei tão aporrinhado, que comecei a dar valor a detalhes e coisas bestas. Por exemplo, na parada em Barbacena, um belo vidro trabalhado em areia dizia "Mixto quente no pão de batata". Porra, Misto com X???? Ver isso escrito com hidrocor num papelão tudo bem, mas num vidro caro daqueles, fala sério!

Enfim, tenho certeza que só reparei nisso porque tava fudido da vida. A verdade é que tinha uma porra de um foragido me esperando no ônibus, e eu começava a desconfiar que o grande gol de minha vida poderia ter batido na trave.

Voltei já mais conformado e irritado, e até me permiti dormir um pouco, quando o porco ao lado começou a roncar. Tudo para, de manhã, ver de camarote a gatinha da poltrona 1 tirando as meias e colocando a sandalinha, deixando a bunda inteira à mostra a cada vez que se abaixava. Gostosa demais, e eu ali, com aquele encosto ao lado. Até na hora de sair do ônibus o cara fingiu que tava dormindo até que eu fosse embora. Uma assombração legítima.

Passado o trauma, me pego aqui pensando. E se eu deveria mesmo ter conhecido a mulher da minha vida naquele ônibus?

Bom, aí como diria um amigo meu, já era. Fudeu a porra toda.

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