sábado, 27 de junho de 2009

Silêncio perturbador


(O inverno este ano tá sem noção!)
08:30 da manhã.


Acordo depois de dormir por menos de 4 horas, e combino com um amigo de ir para a musculação. Ele já está a caminho, então preciso tomar um banho, fazer uma vitamina, e ir. Não dá tempo pra pensar muito.


Ainda pegando no tranco, escovo os dentes e ligo o chuveiro.


Nada.


Água caindo, sem nada da resistência armar. Desligo e ligo novamente.


Nada.


Mudo para a posição verão, volto para o inverno, abro todo o registro, diminuo, tento de novo.


Nada.


Nunca tinha reparado como o barulho de um chuveiro funcionando pode ser lindo. Compadre, vou tentar ser claro: eu sou calorento pra cacete. Deitei sem camisa na neve, encaro qualquer cachoeira por mais fria que esteja, e quando morei no Rio de Janeiro, tomava banho com o chuveiro desligado TODOS os dias. Portanto, definitivamente não sou fresco quando o assunto é frio.


Dito isso, é importante dizer que existe um domo climático em minha cidade, que em certos dias no inverno torna o frio realmente sem noção. Basicamente moro numa reserva florestal no meio das montanhas, a umidade é altíssima, e o vento é daqueles que coça o pulmão e gela os ossos. Falando sério, é um frio sem graça, do tipo que se você sorrir seu lábio vai romper e sangrar.


Diante disso, e do fato de eu estar fragilizado, zonzo de sono, metabolismo lá embaixo, comecei a cogitar tomar banho na casa de algum amigo na volta, até que o problema estivesse resolvido.


Foi então que eu ouvi minha consciência gritando:


Biiiiichaaaaaaa!!!!!!!!!! Seu viadinho, sua gazela, franga, moça! Que porra é essa? Tá com medo de água fria agora, depois de velho?
Cara, quando vc ouve sua consciência dizendo isso, mas ouve mesmo, ou vc fica corajoso e normalmente faz merda, ou é capaz de virar esquizofrênico e nunca mais parar de ouvir vozes.
Não pensei duas vezes. Comecei a xingar, virei aquela porra daquele registro e entrei sambando no boxe, como se tivesse baixado uma pomba-gira. Puta-que-meu-pau, que água fria do cacete!
Deve haver algum gene no cromossomo Y que ative palavrões e xingamentos nessas horas, porque eu estava sozinho ali, ninguém ia ouvir, e mesmo assim eu não conseguia parar de blasfemar. Tava tremendo mais que vara verde, e me esfregava com tanta força e tão pouca coordenação, que estava me machucando mesmo, embora não pudesse sentir muito por estar dormente de frio.
Quando a água bateu no saco então, vi estrela. Mulheres não fazem a menor ideia da sensibilidade dessa área, então seria inútil tentar explicar. Doeu, é o que dá pra dizer.
Lavei a cabeça duas vezes, e cada vez que tinha que tirar o xampu eu vibrava como se tivesse marcado um gol.
Corri como nunca, desliguei aquilo e num pulo já estava seco e vestido. Saí de casa com um short curto, para malhar, e todos na rua, pesadamente agasalhados, me olhavam como se eu quisesse aparecer. Não podiam imaginar que, depois de tudo, eu estava sentindo calor só por já estar seco...

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