quinta-feira, 19 de maio de 2011

Intestino - parte 1

NOTA: Este post é antigo, escrito por um dos membros do Blog, resolvi trazer ele a tona por ser engraçado demais.

Acho que ninguém fica tão constrangido e humilhado por ter que ir ao banheiro quanto meu pai. Aliás, "ir ao banheiro" uma ova, estamos falando sobre cagar aqui, sem qualquer eufemismo. Ou será que alguém não caga? Ir ao banheiro não tem nada demais, você pode fazer mil coisas num banheiro. Então, sejamos mais específicos.

Mas eu falava do meu pai. Pois bem, ele, sem chamar muita atenção para o tema, diz apenas que cagar é um atraso, e a maior prova de nossa pequenez enquanto espécie. Para ele, fica claro que deixar de cagar é o próximo e mais urgente passo evolutivo.

Claro que meu pai não diz como isso poderia acontecer, mas para ele não restam dúvidas: cagar é uma coisa terrível, abominável, que mesmo ele morando sozinho deixa ele profundamente pra baixo, humilhado e constrangido. Ponto.

Concordo que este é um caso radical, mas realmente cagar pode se tornar uma coisa terrível, quando a vontade vem na hora errada. Raras são as pessoas que passam pela vida, sem acumular pelo menos um momento bastante desgraçado em relação a isso. Eu tenho alguns, principalmente por ter herdado de meu pai essa maldição que é o tal intestino emocional. E hoje vou dividir aquela que talvez seja a pior delas.

Questão de alguns meses atrás eu me apaixonei por uma morena escultural. Coisa de louco, vi numa festa, não consegui tirar os olhos, e na semana seguinte estava saindo com ela, num clima super legal.

Tivemos um dia maravilhoso juntos. Caminhada, show e jantar. O dia inteiro vendo aquele mulherão do lado, primeiro com a indefectível calça de ginástica, e depois num vestidinho que daria cadeia 30 anos atrás.

Bom, se a produção diária normal é de 300 milhões de espermatozóides, a minha naquele dia deve ter passado fácil, fácil da casa do bilhão. Meu sangue devia estar fedendo de tanta testosterona, e meus ovos já não cabiam mais dentro do saco. Quem já sentiu essa dor terrível, sabe como é. O sangue fica tão sujo que você começa a se sentir enjoado de tanto tesão.

A noite prometia ser fantástica, até que no meio da janta comecei a sentir aquele rebolo lá no fundo da alma. O tesão absoluto tava deixando meu corpo descompensado, porque ninguém foi feito para ficar mais do que 5 horas excitado sem pagar um alto preço por isso. Ou a fila anda, ou dá tumulto, não tem milagre. Naquele instante eu sabia que meu destino estava traçado, e que só me restava abandonar o navio ou afundar junto com ele.

Comecei a suar grosso nas palmas das mãos, a salivar, e a desejar pagar logo aquela conta. Já não via mais a morena na minha frente, queria apenas reduzir logo a distância que me separava de meu amado banheiro.

O tempo nessas horas parece não render, e eu só via a coisa ficando preta pro meu lado. E o que é pior: eu estava de carona com a gata.

Cara, depois de um dia como aquele, o mínimo que se espera é que a despedida no carro seja maravilhosa. Mas mal eu entrei no carro já comecei a catar minhas chaves dentro do bolso, com a mão visivelmente tremendo. Quando estava a 800 metros de minha casa minha mão já estava na maçanea da porta, e eu já estava me despedindo dela.

Claro que a mulher não entendeu nada, fez aquela cara de espanto e decepção que as mulheres fazem quando você dá uma bola fora, e que no fundo significa que você acabou de quebrar o encanto, e ser riscado na listinha delas.

Quando ela parou o carro, olhou para mim e disse que não acreditava que a noite iria acabar daquele jeito. Bom, se ela soubesse como a minha acabou, com certeza ela teria levantado as mãos para céu...

Pedi desculpas, tentei explicar o inexplicável, e tratei de pular para fora do carro, tentando andar como uma pessoa normal no caminho até o portão de meu prédio. A morena ainda deu um tempo parada, para ver se eu não estava de sacanagem, mas quando viu que eu não ia voltar mesmo, acabou indo embora.

Meu irmão, a partir daí começou meu drama...

Minha mão tremia mais que vara verde, e eu tinha enormes dificuldades para acertar o buraco da chave. O esgoto já estava na borda, e a erupção era questão de segundos. Eu suava como um porco, e então me deparei com uma escolha miserável. Subir de escada ou de elevador?

O problema com o elevador, é que quando a pessoa está apertada ao limite, ela se torna claustrofóbica. Se você precisa mesmo cagar ou mijar, qualquer segundo demora um ano a passar, e você simplesmente não consegue se imaginar dentro de uma caixa sem poder fazer nada a respeito. A probabilidade de você se borrar em pé é considerável.

Sabendo disso, mirei na escada. E foi, provavelmente, a pior escolha que já fiz em toda a minha vida.

Meu amigo, vá por mim, jamais tome a escada numa hora dessas. Minha triste escalada até a porta de casa foi uma longa e infrutífera sucessão de derrotas. Ao dar o primeiro passo eu era um homem. Ao chegar em casa eu era uma repugnante privada ambulante.

O problema aí é ter que levantar as pernas para vencer cada degrau. É quando você fica fragilizado, abre mão da última defesa de sua honra.

Na primeira pernada eu percebi meu erro, mas aí já era tarde para voltar atrás. O caldo começa a vazar a cada degrau, e mesmo estando sozinho você sente o peso do momento. Um homem pode virar um rato em poucos segundos, e sempre dá para descer um pouco mais quando o assunto é degradação. Quem nunca sentiu nojo de si mesmo não pode avaliar o que seja isso. Dava para sentir a alma querendo sair do corpo...

Quando cheguei ao primeiro lance de escadas, seria perfeitamente capaz de me matar caso tivesse a chance. O suflê já tinha transformado minha cueca numa fralda, e ela já começava a não dar vazão ao bolo. A calça seria a próxima vítima. Tudo que eu queria era que um raio caísse sobre minha cabeça miserável.

Quando venci o segundo lance de escadas e cheguei até minha casa, já não tinha mais pressa. O estrago já tinha sido feito, e eu não tinha mais vontade de viver ou qualquer coisa a perder. Aliás, se soubesse que iria acabar cagado daquela maneira, acho até que teria ficado mais tempo para dar uns amassos na morena.

Mas ainda tinha mais derrotas pela frente.

Quando entrei no banheiro tirei a calça, e senti que parte de mim caiu no tapete. Sim, a cagança havia chegado a este ponto. Com problemas mais urgentes para resolver, esqueci aquele pedaço de merda no chão, e fui tentar recuperar minha dignidade no vaso sanitário. Mas mal eu ameacei sentar houve outra erupção, e o estrago foi inacreditável. Eu simplesmente consegui cagar a tampa da privada toda, e ela tava aberta.

Meu irmão, quando você percebe que cagou as costas de sua camisa, é porque a coisa foi séria mesmo. A esta altura eu não estava abalado com nada, e simplesmente entendi que deveria jogar a camisa no lixo, foda-se. Pra quem quer morrer, uma camisa não é nada.

Botei o que restava de meus intestinos para fora, e fiquei ali ainda um bom tempo, apenas buscando valores que me incentivassem a começar limpar aquela merda toda. Precisava, na verdade, encontrar algo de bom em minha vida que fizesse aquilo tudo valer a pena. Tinha acabado de perder um mulherão e tava ali, cagado até o peito. E cara, ninguém te ensina a se limpar numa situação dessas...

O jeito é tirar o grosso, tentar recuperar a casa, e partir para um longo banho. Gastei uns 30 minutos limpando a privada, e fui pro chuveiro. Devo ter ficado mais uns 40 minutos por lá, até sentir que a alma já estava menos suja.

Desliguei o chuveiro me sentindo gente novamente, apenas para sair do boxe e pisar em cheio no bolo de merda que tinha deixado cair no tapete.

Rapaz... se existe um fundo do poço, eu bati com força nele naquele instante. Sério, você por acaso já sentiu a sensação de pisar descalso num bolo de merda doente? Bom, se não sentiu, não queira saber como é. Só me restou mesmo dar aquela risada que vem junto com uma lágrima, limpar a porra do pé, tentar salvar o tapete, e voltar pro banho.

E você, já viveu alguma coisa nesse nível?