quinta-feira, 11 de junho de 2009

Extinção



Não quero alarmar ninguém, mas acho que o mundo vai acabar. E é logo.

Ok, acho que exagerei um pouco. Não é o mundo que vai acabar, mas apenas a humanidade. E aí, te consolou?

Percebi isso há poucos dias, quando estava tomando banho. Estou naquela crise dos 30, tendo que encarar que cheguei a esta idade muito antes do que imaginava ou pretendia, e totalmente distante do que tinha planejado aos 15 ou 20.

Não me casei, não tenho filhos, obtive alguma realização profissional, mas não financeira. Conheci 5 países, mas nesse ritmo vão faltar muitos quando eu morrer. Tive um número obceno de namoradas, mas jamais consegui vencer a arrebentação das brigas cotidianas e orkutianas para nadar nas águas profundas do relacionamento para a vida toda.

Tive ótimos momentos, mas todos tiveram prazos curtos de validade. De repente não posso mais brincar com meus bonecos, nem passar o dia acelerando meu autorama. Faculdade já ficou nos retrovisores, e quando eu dei por mim, 95% das pessoas que eu amo já estavam morando longe pra cacete, ou eu é que estava, sei lá, e eu tava vivendo para trabalhar. Cacete! O que houve com minha vida??

Me dei conta também que dos 15 aos 30 eu fiz de tudo para não ser pai, e que agora quero ser pai e não tá fácil. As mulheres de minha idade que queriam ter filhos já tiveram. As outras ou não pensam nisso, ou fazem muitas contas.

É camisinha, anticoncepcional, pílula do dia seguinte, fertilidade caindo, estresse pra cacete, casamento caro demais, filho caro demais, trabalho demais, dinheiro de menos. Rapaz, que vida é essa?

Mas eu dizia que a humanidade vai acabar, e que eu me toquei disso no banho. Pois bem.

Enquanto estava lá no meu banho, distraído da vida, notei a presença de dois daqueles mosquitinhos que só existem nos banheiros do mundo, cujo nome não faço a menor ideia, nem você. Mosquitinho de banheiro, porra, tenho certeza que você sabe qual.

Então, um desses estava parado, enquanto o outro vinha por trás num galope super decidido. Não deu para ver, mas era evidente que aquele de trás tava com os olhos esbugalhados, com os culhões cantando, precisando afogar o ganso de qualquer maneira. E o da frente - que quero crer que fosse uma fêmea - tava ali, ou se fazendo de gostosa, ou sem a menor noção da galada que ia levar.

Os bichinhos ganharam minha atenção, e parei para ver aquela cena inesperada. Afinal, quando a gente olha para um negocinho daqueles não consegue imaginar que eles também transam, que também sofrem com a febre do rato.

E não deu outra. O bichinho veio na saúde, e entrou com tudo no cangote do que estava parado lá. Engatou pra valer, a ponto dos dois começarem a voar grudados, e aos poucos irem caindo no chão molhado. Uma cena patética até, que mostra o desespero que é esse tal de sexo.

Num primeiro momento fiquei rindo sozinho daquilo que tinha acabado de ver. Os dois lá, grudados, boiando na água do boxe, sem o menor pudor com minha presença. Mas depois aquilo começou a me deprimir. De uma hora para a outra me dei conta do quão perigosamente nossa espécie se afastou da natureza.

Cara, aquele mosquitinho não considerou nada quando partiu no galope para molhar o biscoito. Ele não quis saber se a outra ia querer, nem teve tempo de dizer nada romântico. Ela, por sua vez, não fez doce, e entrou na dança pra valer. os dois mandaram bala ali, na minha frente, correndo o risco de morrer com tantas gotas que caíam aceleradas em cima deles. Mas que nada, ficaram lá tampados, curtindo a vida curta e miserável deles.

A essa altura já devem estar mortos, mas ao menos deixaram mais mosquitinhos no mundo.

Pomba, e eu?

Bom, se eu quiser me reproduzir, preciso antes de tudo ganhar uma quantidade razoável de dinheiro. Isso naturalmente significa que para cumprir o desígnio mais básico de minha natureza, eu tenho que antes abdicar de 40% do meu dia, jogando parte de minha vida fora para alguém acima de mim ficar rico.

Se conseguir isso, tenho que estar disposto a gastar um bocado, investir em mim numa escala irreal, prometer mundos e fundos, e caçar uma mulher em meio a essa geração educada por novela que ainda acredite no matrimônio. Provavelmente seria mais fácil eu me eleger prefeito do que isso.

Encontrando a parceira, terei que gastar uma baba em casamento, casa própria, e outra fábula para bancar a educação de uma criança. E aí, se quiser copular com minha única e vitalícia fêmea, terei que fazer isso após um dia sacrificante de trabalho.

Acontece que para tudo isso acontecer, eu provavelmente já estarei muito além de minha idade biológica ideal para a paternidade, e ela então nem se diga.

E o curioso é notar que este quadro mudou demais da geração de meus avós para a de meus pais, e da de meus pais para a minha. A coisa tá cada vez mais complicada, e se a tendência continuar (e o provável é que só piore), uma parcela enorme de nossa população vai começar a passar pela vida sem ter chances reais de se reproduzir. É o que eu estou sentindo na pele.

Porra, eu cheguei ao ponto de invejar dois mosquitinhos de banheiro!

É isso. Através daquelas pequenas porcarias eu identifiquei esta ameaça silenciosa à nossa continuidade enquanto espécie. Tem algo muito errado nessa vida que estamos levando...

2 comentários:

  1. Pode parecer inacreditável, uma puta de uma coencidência, mas aqui em casa eu também contemplei este fato e também passo na mesma crise!!! PQP!!!

    Ass: Cleiton

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  2. " verdade lógica e posso até dizer coerente!!" Porém, isso denota a importancia de levar a vida ao máximo em oportunidades aparentes deixadas passar em meio a mais perversa crise cotidiana que levamos!! o importante é se deixar viver e ser feliz ao maximo levantando voo copulando a felicidade em dois!! assim é a vida de dois simples mosquitos de banheiro quando se permitem viver em goso eterno!!!

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