quarta-feira, 27 de maio de 2009

Misérias cotidianas - parte 1. O 1º encontro com o sogro.

Tempos atrás falei aqui sobre alguns dramas fisiológicos que fazem parte do dia-a-dia, mas a triste verdade é que a vida é recheada de muitas outras pequenas misérias.


Tem aquela crise de riso na hora mais imprópria, tem aquele atraso involuntário no dia em que vc tinha que chegar na hora, e uma infinidade de outras situações.


Em meio a todo esse caos, porém, há algumas das quais pouca gente escapa, pois são situações tensas por natureza. O primeiro encontro com o sogro, por exemplo.


Para entender melhor este momento, vamos refletir um pouco sobre a figura do sogro, em especial o sogro de primeira viagem.


Voltando no tempo, veremos que este camarada usou e abusou das filhinhas lindas dos sogros que ele próprio teve na vida. 30 anos atrás, ele dava uma de bom moço na frente da família da menina, e quando dizia que ia com ela para a missa, ia para o drive-in mais próximo dar umas buzinadas na garota.


Durante a vida inteira ele passou os velhos para trás, e sempre se sentiu esperto por causa disso. No entanto, por uma dessas viradas da vida, quando ele veio a se casar quis o destino que a 1ª filha fosse menina, veja só.


Mal saiu o resultado do exame, os amigos já começaram a sacanear, dizendo que estavam na fila para pegar a menininha, que agora ele ia deixar de ser consumidor para virar fornecedor, e tudo o mais que os sacanas dos amigos dizem nessa hora.


Em meio à alegria de ter uma filha, o pensamento que mais ficava em sua cabeça já era sobre o drama de agora estar no papel do sogro, do pai que cria aquele anjinho com Sucrilhos e Leite A, somente para um molecote, totalmente movido pelos hormônios e sem escrúpulo nenhum, chegar e fazer uma miséria com a queridinha da família.


Em resumo: a filha ainda está na barriga da mãe, e o pai já tem ódio do moleque que um dia chegará em sua casa, dizendo coisas bonitas, somente para poder traçar sua filha na 1º oportunidade.


E a viagem mental só tende a piorar. Imagens como a filha grávida e o moleque sem condições de assumir são pesadelos constantes, bem como a cena terrível do pivete estraçalhando aquela bonequinha que vc viu dar os primeiros passos.


E nessa o tempo passa, até que um belo dia a filha - que para seu desespero virou uma mulher constrangedoramente gostosa - resolve levar o namoradinho para conhecer a família. Claro que ele não tem chance alguma. A única função deste infeliz é ser o boi de piranha, se sacrificar e abrir o caminho para os outros que virão depois dele.


Pois bem, conheço algumas histórias relativas a este encontro tenso entre sogro e namorado. A melhor delas vou contar agora, com nomes trocados obviamente.


O mês era agosto de 1996. Eu e dois amigos fomos visitar uma amiga minha de infância, num lugar desconhecido em meio à Ilha de Guaratiba, no Rio de Janeiro. Vale dizer que a garota era minha amiga de infância, os outros dois nem sequer a tinham visto antes. Ainda assim decidiram que iam comigo visitar a garota, e no embalo dormir lá na casa dela.


A viagem em si daria uma ótima história, mas vou pular esta parte. O que nos interessa aqui é que no dia seguinte, eu e um dos amigos, que aqui irei chamar de Viriato, decidimos voltar para nossa cidade, pois era dia dos pais. O outro, que chamarei de Tião, decidiu ficar, pois estava ficando com minha amiga, e estava um tanto apaixonado.


Agora entenda a situação. O cara havia chegado na casa da menina quase 22h dum sábado, sem avisar, na minha aba, e todo molhado, pois estava caindo um temporal. Antes disso ele jamais a tinha visto, mas ainda assim ficou para dormir na casa dela. Lá pelas tantas eles ficaram, e ele se sentiu à vontade o bastante para ir com ela almoçar na casa do pai no dia seguinte.


E agora começa o drama de verdade.


O pai da menina (que na ocasião tinha 16 anos), morava em Santa Cruz, simplesmente o bairro mais distante do Rio de Janeiro. A viagem até lá levava mais de 1h hora, e todos iam espremidos num fusquinha. Como não havia espaço, minha amiga foi no colo do Tião, que tem 1,85 de altura. Imaginem a cena.


Após uns 5 minutos, já não havia qualquer vestígio de circulação sanguínea nas pernas do cara, mas ele ainda tava naquela fase de impressionar, e não quis dar o braço a torcer. Ficou ali aguentando, com um sorriso no rosto.


Uma longa hora depois, o fusquinha chegou ao destino. O pai da menina esperava a todos do lado de fora, naturalmente curioso para conhecer o tal namorado que se atrevia a ir com ela no dia dos pais.


Então todo mundo saiu do carro, e nada do Tião sair também. Ninguém tava entendendo nada, e começou a ficar aquele clima tenso no ar.


Por fim o cara pegou uma perna de cada vez com as mãos, e colocou para fora do carro, confiante de que conseguiria se sustentar com elas na hora em que pulasse do carro. Respirou fundo, preparou o movimento, e se atirou.


Seu fracasso foi retumbante.


Claro que as pernas não sustentaram nada, pois estavam completamente mortas. E então todos ficaram ali, vendo aquele animal se contorcendo no chão, sem explicar a ninguém o que estava acontecendo. Ninguém tinha intimidade com ele, e o máximo que fizeram foi perguntar se estava tudo bem. E ele lá, inexplicavelmente no chão, dizendo que sim, tava tudo ok com ele.

O pai da menina não conseguia acreditar. Ele olhava para a cara dela, que se dividia entre rir da situação e dar de ombros. E o Tião, lá, humilhado no chão sem ter a menor chance de se levantar. Por fim esticou a mão e cumprimentou o sogro dali mesmo, sentado no chão. E ainda ficou por ali, rastejando, por pelo menos 5 minutos, depois de sentir um formigamento que deve ter doído demais.

Agora imagine o clima que não tomou conta daquele almoço, e a impressão que este infeliz não deixou com a família da menina. Se aquele papo de que a 1ª impressão é a que fica for verdade, ele conseguiu estragar uma possível história logo no 1º encontro.

O que acho mais engraçado nessa história, 100% real, é que o cara em nenhum momento tomou a iniciativa de explicar o que estava acontecendo. Ficou o dito pelo não dito, e até hoje as pessoas devem comentar sobre aquele pateta que não conseguia nem ficar de pé. Obviamente o namoro durou apenas aquele fim de semana, e tudo ficou por isso mesmo.

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