quarta-feira, 29 de abril de 2009

Feias de dar medo



Desde criança a gente ouve várias expressões populares, na maioria das vezes muito criativas e funcionais, mas que geralmente não expressam a verdade ao pé da letra.

Não me ocorrem muitas agora, mas por exemplo: morrer de fome. Todo mundo aqui já disse várias vezes que estava morrendo de fome, mas em quantas vezes isso era verdade? "Caralho, mermão, me dá qualquer coisa aí pra eu comer, eu tô morrendo de fome, porra!" Imagine isso, seria uma coisa feia de se ver...

Pois bem, desde moleque eu ouço minha mãe dizendo que fulano(a) é feio(a) de dar medo. Mas claro, ninguém pode ser feio de dar medo, correto?

Errado! E eu só me dei conta disso há uns 10 dias.

Era um sábado à noite. Um daqueles dias em que você tá cheio de planos, mas que todos os seus amigos furam, ninguém liga pra ninguém, ou quando ligam não tem ninguém em casa, você sabe como é. Só sei que deu 23h30 aqui, e eu percebi que minha noite tinha ido pro vinagre, e por teimosia decidi sair sozinho mesmo, para comer uma massa na rua. Tava afim de sair, tava puto com os amigos, e aquele me pareceu um protesto razoável.

Tem uma ótima casa de massas bem aqui perto de casa, e para chegar a ela tenho basicamente dois caminhos possíveis. Um que passa pela agitação do centro da cidade, e outro que passa por uma rua na maioria das vezes deserta. Optei pela deserta e fui.

Na ida, tudo bem. Mas na volta, meu irmão... pqp.

Mal eu dobrei a esquina para a tal rua deserta, tive uma daquelas visões do inferno (olha outra expressão exagerada aí...), que me fez duvidar de meus próprios olhos. Em minha direção, no mesmo lado da calçada, vinham duas mulheres que deveriam ter 20 e poucos anos cada. Se a descrição parasse por aí estaria ótimo, mas elas eram mais feias do que bater na mãe, e estavam vestidas somente com blusa e calcinha!

É isso mesmo, elas estavam sem calça, saia, short ou algo que o valha. Estavam descalças também, e por mais que meus olhos tenham rapidamente desviado daquela visão, o trauma marcou em minhas retinas um detalhe bastante desagradável: as respectivas calcinhas possuíam aquele típido degradê adquirido com muito uso e pouca lavagem.

Pior: elas vinham rindo e se abraçando, e nitidamente se animaram quando me viram ali, sozinho e todo arrumado, voltando para casa.

Mermão, eu achei que ia morrer antes de sentir medo de alguma mulher. Mas vou te dizer, já andei por lugares sinistros no Rio de Janeiro, já fiz coisas que poderiam muito bem serem interpretadas como tentativas não ortodóxicas de suicídio, já me vi mais de uma vez no meio de uma multidão em caótica guerra campal, e até aqui não soube o que é sentir medo de outra pessoa. Mas me borrei de medo (outro exagero legal) daquelas duas mulheres.

Quando eu vi que uma delas tinha armado um sorriso maroto ao me ver, meu coração disparou. Desviei o olhar para o chão e suei frio. Naquele momento eu queria ser feio como o Yoda, ou então ser invisível, sei lá. Só sei que se um daqueles dragões mexesse comigo, eu era capaz de sair correndo.

Bom, eu devo ter conseguido deixar claro o quanto tinha abominado aquela visão, pois elas não se animaram a mexer comigo. Falaram algumas coisas depois que eu passei, mas foi só aquele tipo de coisa que a pessoa diz quando se acovarda em relação a dizer na lata. E desde então fico me perguntando por que fiquei com medo daquelas mulheres, afinal elas não poderiam fazer nada comigo que eu não deixasse.

Bom, sei lá. Acho que medo não é uma coisa muito racional mesmo. As mulheres não têm medo de barata? Eu sei lá, mas a verdade é que senti medo demais daquelas duas. Só espero não descobrir na marra que outras dessas expressões também podem ser verdadeiras em situações limite...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe o seu comentário aqui, ou entao vá encher o saco de outro!