quarta-feira, 22 de julho de 2009

Casamento


Diga lá, amigão. Quando você pensa numa cerimônia de casamento, qual a imagem clássica que te vem à cabeça?

Bom, se você logo imagina a noiva chegando num carro luxuoso, toda paramentada, e depois entrando na igreja ao som da marcha nupcial enquanto o marido à aguarda no altar, nós dois pensamos a mesma coisa.

Em meu mais recente post falei sobre as coisas que de tanto serem vistas e revistas, acabam se tornando naturais e invisíveis. A rigor, desde criança nos acostumamos a certos rituais ou procedimentos, de tal forma que jamais chegamos a questionar a razão deles serem como são.

Já não lembro o motivo, mas um dia desses uma conversa qualquer me fez pensar sobre os porquês desse cerimonial de matrimônio. E não gostei nada do que fui percebendo...

***

Para começar, a gente sabe que o noivo sempre precisa chegar antes, e que a noiva tem a "tradição" de se atrasar. De fato, ela só entra depois de ter a certeza de que o noivo está lá, à sua espera, e diante de um punhado de gente importante para ele. E aí, em sua opinião uma tradição casual, ou transbordada de mensagens subliminares?

Bom, meu caro, parando para refletir, eu vejo nisso um tremendo sinal de alerta para nós, homens. Vamos por partes:

1) A noiva sempre se atrasa.

Não restam dúvidas de que a função principal disso é garantir que o noivo estará no altar quando ela chegar. Para as mulheres o casamento é um momento delas, elas aturam o homem nos anos seguintes somente para terem aquele momento de glória na frente da família e das amigas invejosas. Se elas chegassem lá e não encontrassem o noivo, isso seria o fim do mundo. Não porque eventualmente amem o noivo, nada disso. Mas porque assim ficariam mal faladas, e todas aquelas mulheres que ela odeia e chamou para a festa apenas para que testemunhassem sua glória iriam rir dela por trás. E não há nada no mundo que uma mulher odeie mais do que isso.

Mas... por que é tão crucial garantir que o homem estará na igreja, sem qualquer garantia de que a noiva irá, e ainda por cima sendo vigiado por uma centena de pessoas?

Bom, meu irmão, a única resposta que me vem à cabeça é a seguinte: o casamento é bom para elas, não para nós. Todo mundo sabe disso, a ponto de só levarem a noiva quando tiverem a certeza de que o cara apareceu mesmo, não teve um momento de lucidez e caiu no mundo enquanto tinha a chance.

Mas a presença do noivo parece não ser garantia o suficiente. O que o aguarda na vida de casado é algo tão violento, mas tão brabo, que o jeito é encher a igreja com as pessoas mais importantes da vida do cara, e colocar todas elas ali, o vigiando, para que ele não corra o risco de sucumbir aos instintos de autopreservação e sair correndo daquele martírio antes que seja tarde.

Já a noiva... bom, ninguém precisa se preocupar se ela irá ou não. Ela irá e pronto, mesmo que já tenha um divórcio em mente para a semana seguinte. Para mim, esse é um sinal inequívoco e insofismável de que se o casamento é bom para alguém, esse alguém é a mulher, e não o homem.

Dito isso, vale ainda observar que o atraso da noiva traz ainda uma segunda função, que não deixa de ser carregada de profecia e significado. Mesmo estando pronta, mesmo sabendo que o cara tá lá, no altar, vigiado, coagido, e esperando por ela em seu momento de glória, a filha da mãe atrasa só de sacanagem.

Ela quer ser aguardada? Quer! Ela quer roubar a cena? Quer! Mas sobretudo ela quer fazer aquele safado esperar. É o momento no qual ela pode tudo, tudo é ela, tudo é lindo, tudo que ela faça é permitido. Então ela não se controla, e curte aquele momento sádico no qual o pobre coitado está lá, de terno e suando por causa da besteira que está fazendo, e do calor daquele monte de luzes em cima dele.

Ela sabe que as pessoas vão começar a pensar que ela não vai, que o cara foi abandonado, e ela gosta disso. Gosta de demonstrar poder, de mascarar o fato de que está vivendo o momento central de sua vida, e que em seu íntimo está dando pulos de alegria porque conseguiu enrolar um paspalho que caiu em sua teia. Tanta gente falou que ela ia ficar pra titia, mas agora lá está ela, casando, e ainda por cima esnobando o marido. Sua entrada na igreja é quase como um favor que ela faz, de aparecer... Fala sério... É a realização de qualquer mulher!

2) Dama de honra e pagem.

Nessa cerimônia há milhares de pontos que poderíamos explorar, e todos eles nos levariam às mesmas conclusões deste primeiro. Mulher se dando bem, e homem se ferrando. Gostaria, portanto, de pular para o papel destas duas crianças, que numa certa altura trazem as alianças, vestidos como se eles próprios fossem bonsais de noivo e noiva.

Já conversei com algumas mulheres, que na infância foram damas de honra, e a grande maioria delas me disse que, naquele momento, pensou que estivesse se casando. Percebeu a gravidade da coisa?

A participação daquelas puras criancinhas pode de fato emocionar a todos, mas tem também a função primeira de 'naturalizar' a cerimônia, tornar aquilo tudo natural aos olhos infantis, e com isso dizer: "Olha, é assim que se faz, é assim que se casa. Jamais questione isso, e, por favor, perpetue a tradição, pelo bem da continuidade da espécie".

Rapaz, fico por aqui, porque quanto mais penso à respeito, mais fico apavorado.

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