quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Humilhação



Um homem não se mede por sua postura nos bons momentos, pois nestes até os piores elementos são capazes de agir de maneira adequada. Da mesma forma, não é porque se excita com a Gisele Bündchen que um cara pode dizer que gosta de mulher. Dela, até o Clodovil gostava...

Não, um homem diz quem é na hora em que a carniça começa a feder pra valer, na hora em que a vaca vai pro brejo com força mesmo, na hora em que a cobra fuma crack, e a porca gripa e torce o rabo. Em resumo: quando a única coisa a se dizer é aquela frase do poeta. "Fudeu a porra toda!"

Seria ótimo se a vida fosse feita apenas de momentos gloriosos. Lindas mulheres, dinheiro no bolso, muita saúde, tempo de sobra para ser feliz, e muitos amigos fiéis por perto. Que beleza. Mas sabemos que a coisa não funciona dessa forma, e a verdade é que a história de uma vida comporta uma maioria de dias ordinários, salpicados por alguns momentos maravilhosos e outros terríveis.

Hoje vou falar de um desses terríveis, que vivi há uns 15 anos...

Uma das coisas mais humilhantes que pode acontecer a uma pessoa é ela mijar na cama. Acho que todos concordam com isso. Porém, o que pouca gente se dá conta, é de que essa é uma situação que pode piorar em escala exponencial, caso insiramos alguns detalhes na história.

Por exemplo: a cama pode não ser sua.

Veja bem, sou um cara normal. Não sou nenhum demente, nem tampouco um traumatizado veterano de guerra. Parei de mijar na cama na idade normal, e vivi minha vida sem problemas em relação a isso. É verdade que eu falava dormindo - dizem que já não falo mais -, mas de qualquer forma esse não seria o pior dos problemas. Ao menos enquanto eu não começasse a falar segredos perigosos.

Ao contrário da maior parte dos adolescentes, eu não costumava dormir fora de casa. Era algo que fazia raramente, talvez por morar numa cidade relativamente pequena, bem ao centro e perto de tudo. Geralmente ficava até tarde na rua, mas sempre tinha meios de voltar facilmente para casa.

Como me arrependo de não ter feito a mesma coisa naquele dia terrível...

Minha idade na ocasião é incerta, mas deveria ter, sei lá, 16 anos. Cursava o finado 2º grau, e um primo que estudava comigo me chamou para dormir na casa dele. Vivíamos juntos, e diante da insistência dele acabei concordando. Foi um dos piores erros que cometi na vida.

No quarto havia duas camas paralelas separadas por cerca de 1 metro e meio. A deste meu primo, e a do irmão mais velho dele, que já morava fora por fazer faculdade. Cama vazia, fiquei com ela.

Não me lembro se dormi bem, ou o que fizemos antes do sono nos dominar. Por algum motivo, este tipo de memória casual não nos marca tanto. Mas me lembro perfeitamente do desespero que foi mirar o bilau na privada e mijar como milhares de vezes fiz nessa vida, apenas para descobrir da pior forma que eu era, na verdade, prisioneiro de uma sinistra Matrix. Tudo aquilo que eu via não passava de uma ilusão criada por minha mente, e na verdade aquele cheiroso e convidativo banheiro não passava da indefesa e terrivelmente permeável cama de meu primo mais velho, a essa altura já completamente encharcada pela minha urina.

Essa é, com certeza, uma das piores maneiras de se acordar.

Cada nova informação que meu cérebro colhia parecia apenas me sugerir uma coisa: "se mate, rápido!"

Eu havia me mijado todo, e o pior é que não estava em casa. Pior, muito pior do que isso, eu estava numa casa de pessoas super conhecidas, com as quais teria que conviver pela vida inteira. Sem falar que como eu não costumava dormir lá, eles agora iam pensar que eu mijava assim todas as noites...

Que momento miserável... Com a cabeça berrando mil sugestões ao mesmo tempo, busquei fragilmente me acalmar, e tentar alguma solução desesperada. Faltava pouco tempo para o despertador tocar, e qualquer coisa que eu fizesse tinha que fazer em silêncio, para não acordar ninguém.

Levantei-me para ver o tamanho do prejuízo, e logo ficou claro que era perda total. Eu estava mijado até os peitos, no lado e nas costas. A cama estava completamente condenada.

Fui caminhando na ponta dos dedos até o banheiro, onde me despi e lavei o corpo com água da pia mesmo. Lavei também o pijama, e tentei enxugar o máximo que deu com papel higiênico. Claro que fiquei molhado, mas como estava todo molhado, ao menos não aparecia nenhuma mancha. Tava tudo ferrado por igual.

Levei então um rolo de papel higiênico, e comecei a pressionar as folhas contra o colchão. Consegui absorver parte do caldo, mas no fundo era apenas uma atitude desesperada de alguém que sabia que tinha o destino já traçado. Aquilo era o mesmo que enxugar gelo, pois a urina já tinha penetrado fundo, e era muita.

Foi então que tive a ideia salvadora. E se eu utilizasse álccol? Bom, álcool é volátil, evapora fácil, talvez evaporasse junto com a urina também.

Só tinha um problema: como conseguir álcool?

Bom, não perdi muito tempo. Olhei à minha frente e vi um vidrinho de desodorante. "Ora, desodorante contém álcool" - pensei. "E ainda tem a vantagem de ter perfume".

Pronto, detonei o vidro de desodorante na cama.

Entenda, estou falando de um daqueles frascos de plástico que vc apertava para que ele espirrasse. Pois bem, eu virei o troço de cabeça para baixo, e derramei tudo, molhei a cama toda de novo, na esperança de que aquilo evaporasse o mijo, e ainda deixasse um rastro de perfume onde antes havia odor de rodoviária.

Consegui fazer tudo isso sem que meu primo acordasse, e então me deitei, encenando a maior calma, para fingir que nada de anormal havia acontecido. Além disso, esperava honestamente que o calor de meu corpo pudesse aquecer aquele ácool, e fazer tudo aquilo evaporar.

6:30 o despertador tocou, e eu me levantei normalmente. Quando fiquei sozinho no quarto afundei o nariz no colchão, e realmente não sentia nenhum cheiro muito forte. Um pouco de perfume, um pouco de mijo, nada que pudesse ser notado ao longe. E a cama também já não parecia tão molhada assim. "É, acho que me safei" - cheguei a pensar.

Por fim, como todo mundo que mija na cama, eu a arrumei, torcendo para que ninguém encostasse nela nos próximos dias. E fui tranquilo para a escola.

O dia passou, e eu em algum momento devo até ter me esquecido de minha pequena tragédia. Tanto que, lá pelo meio da tarde, tive que retornar à casa de meu primo, para fazer algum trabalho escolar. e fui, sem me preocupar.

Entrei, falei com todos muito normalmente, e não lembro de ter notado nada de estranho no tratamento deles. Porém, quando eu e meu primo entramos em seu quarto, lá estava a cama sem colchão, gritando sem palavras toda a minha humilhação.

Eu fingi que não notei, ele também não disse nada - ao menos na minha frente. Mas a verdade é que naquele momento tudo o que eu queria era evaporar, ou ser engolido pela terra.

Nunca mais voltei a dormir lá, nem jamais voltei a mijar na matrix novamente. Mas, passados quase 20 anos, ainda hoje tenho a impressão de que aquela parte de minha família deve achar que eu mije na cama todos os dias...

2 comentários:

  1. Seria cômico se não fosse trágico!
    Confesso que esbocei sorrisos. Tá. Eu ri alto.
    Espero que este fato não tenha te traumatizado até hoje (honestamente).

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  2. HAHAHAHAHHAHAHAHHAHA

    Sensacional!!!

    Me deu crise de tosse aqui de tanto que eu ri. Quando eu me recompunha pra voltar a ler, passava os olhos em mais algumas palavras e já voltava a gargalhar.

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